"ADAPTAÇÃO" AOS CAMPOS ELECTROMAGNÉTICOS e Resolução 1815 do Conselho da Europa

A CRECHE DO IPIMAR


Mais uma vez as companhias de telecomunicações não param de nos colocar ameaças à porta. Este final de Março 2011 assistiu-se à instalação de uma antena de telemóvel da VODAFONE nas traseiras do Instituto de Investigação das Pescas e do Mar (IPIMAR) em Lisboa, o meu local de trabalho desde há duas décadas. Neste caso, um dos pormenores da ‘licença para matar’ que detêm as companhias de telecomunicações, é que esta antena fica a escassos metros da creche do IPIMAR. Mas também irradia os funcionários do IPIMAR-Lisboa, a quem não foi dada qualquer informação prévia sobre esta instalação, e muitos nem se aperceberam do sucedido nas traseiras no dia 29.
A VODAFONE já detinha umas instalações semelhantes no edifício mais alto dos armazéns da DOCAPESCA. Em virtude do desmantelamento destes edifícios, procurou deslocar as antenas para zona adjacente. Todos estes terrenos estão sob a Administração do Porto de Lisboa. Já anteriormente esteve colocada provisoriamente outra antena portátil (de outra companhia) como esta da foto, a escassos metros da Direcção Geral de Pescas e Aquicultura, cujo edifício era assim também atravessado pela propagação das ondas. Como referi antes, no respeitante a radiações não-ionizantes, o Estado não só não zela pela saúde de todos (nem dos próprios trabalhadores), como as Instituições Públicas ainda fazem dinheiro à conta das operadoras móveis.
O princípio da precaução não é mesmo nada familiar à indústria das telecomunicações. Mas à luz da teoria do Lamarckismo (uma teoria pré-darwinista sobre a evolução, em que se defende a propagação dos caracteres adquiridos) talvez já faça mais sentido expor as crianças desde jovens a radiações.
Não pensem que com o advento da genética o Lamarckismo foi completamente enterrado pelo Neo-Darwinismo. O Neo-Lamarckismo não tem deixado de ter os seus adeptos ao longo das décadas, que defendem formas não genéticas de evolução (herança epigenética). Só mesmo com a exposição forçada desde tenra idade é que nos tornaremos gradualmente resistentes a estes brutais níveis de radiação existentes actualmente! Talvez estas crianças assim fiquem preparadas, quando se tornarem utilizadores de telemóveis, a não desenvolver por exemplo cancro da parótida, ou outro.
A evolução segundo Lamarck, dirigida pela "necessidade".

Mas deixando-nos de humor negro (que o caso é grave), no panfleto «O que precisa saber sobre as antenas (da ANACOM)» pode ler-se: «As antenas das estações de base dos telefones móveis emitem radiações de um modo direccional, como se de um chuveiro se tratasse. Isto quer dizer que a radiação é dirigida para determinados locais, não se espalhando com a mesma intensidade por todo o espaço circundante da antena. Normalmente, a emissão é feita na horizontal, com 120 de abertura no máximo, e com uma ligeira inclinação para o solo, em geral de 8º. Isto significa que, mesmo nas proximidades de uma antena de uma estação de base, a radiação pode ser muito reduzida, nomeadamente em baixo, em cima e atrás da antena.»
Mas se os limites actuais não nos protegem a saúde, podemos verdadeiramente acreditar que a ‘radiação muito reduzida’ por debaixo de uma antena é segura? A propagação da radiação em linha recta não existe na natureza. Basta olharmos para o campo gerado por um íman sobre a limalha de ferro. E já repararam que quando estão na sombra não perdem a visibilidade como à noite? Pois, isso deve-se à presença na zona de sombra de ondas reflectidas dos locais iluminados pelo Sol. E o que sucede com as microondas reflectidas? Por onde andam?


Excepções existem em que se tenta obter a propagação de um feixe de energia o mais aproximada da linha recta. Conhecem bem o caso do raio laser. Outro caso é usado nos repetidores que ligam antenas de telemóvel entre si. Estes não tem o aspecto de uma caixa rectangular estreita, mas são circulares, semelhantes a um tambor colocado na vertical.
Abaixo podem ver o exemplo da perigosidade de um feixe destes, não na proximidade mas à distância, visto que nem todas as ondas emitidas acertam no seu alvo localizado a muitos quilómetros, no caso de um desnível do terreno, por exemplo. As ondas não interceptados pelo receptor, podem prosseguir a sua propagação a atingir edifícios e pessoas no solo.


NÍVEIS DE RADIAÇÕES DE MICROONDAS NO IPIMAR


A medição foi efectuada pelo Engº Eugénio Lopes com um equipamento alemão da Gigahertz-solutions que permite medir dos 800 MHz aos 2.5 GHz. No exterior do terraço e imediatamente em frente da antena podemos medir valores que atingiram 7,4 milli-Watt/m2, e na sala de convívio situada atrás desta primeira medição os valores atingiram 2,6 mW/m2. Em salas viradas para a antena, no piso abaixo (1º piso), encontraram-se valores entre 0.4-0.8 mW/m2. E no jardim da creche: 0.10 mW/m2.
Estes valores não são recomendados pelos especialistas que não têm ligações suspeitas com a indústria.
Actualmente o nível máximo permitido para esta gama de frequências é de 61 V/m ou 1000 mW/m2. O uso malicioso dos números faz com que as companhias de telecomunicações fiquem sempre uns confortáveis 10-100 vezes abaixo do máximo. O que poderá parecer tranquilizante para o cidadão ignorante dos malefícios destes campos electromagnéticos (efectivamente, na proximidade desta antena o valor estava uma centena de vezes abaixo do actual limite).


O Relatório Bioinitiative recomenda 0.6 V/m ou 1 mW/m2 (0.1 µW/cm2) – um milhar de vezes abaixo do velho limite baseado exclusivamente nos efeitos térmicos. Acima deste valor existem efeitos biológicos comprovados por diversos estudos científicos.
Ora os trabalhadores do IPIMAR com gabinetes no Terraço estão expostos a níveis claramente superiores durante um período que pode ir até as 7 horas consecutivas (o nosso horário de trabalho diário).
Algumas cidades francesas estão a tomar medidas no sentido da aplicação deste limite (http://www.robindestoits.org/Villes-pilotes-candidates-au-06V-m-_a838.html; http://www.es-uk.info/news/20100301_main_newsletter.pdf). Já está em aplicação noutras cidades: Toscane (Itália), Salzbourg (Áustria), Valencia (Espanha).
O Painel de Seletun recomenda também um limite provisório de 1.7 mW/m2. No entanto, aplicando o princípio da precaução, um limite de 0.17 mW/m2 seria justificável. Estes limites não têm em conta as populações mais sensitivas (os electrohipersensíveis, com sistema imunitário comprometido, o feto, etc).

Estes valores são ainda muito elevados segundo o ‘Padrão de Biologia da Construção SBM-2003’ defendido pelo Instituto de Biologia da Construção – a bau-biologie (http://www.baubiologie.de/downloads/english/SBM2003_engl_neu.pdf): a densidade de radiação pulsada deve situar-se abaixo de 0.005 mW/m2 (ou 5 µW/m2), preferencialmente abaixo de 0.0001 mW/m2 (ou 0.1 µW/m2). (Para a radiação não pulsada os limites são dez vezes superiores, devido a sua perigosidade ser mais reduzida).
Sendo electrohipersensível, efectivamente tenho grande desconforto em casa ou no trabalho seguindo o limite proposto no Relatório Bioinitiative. Na medição realizada com o Engº Eugénio Lopes, encontrei campos que atingiram os 100 µW/m2, quer no meu gabinete quer em casa.


NÍVEIS DE RADIAÇÕES EM LUGARES PÚBLICOS – UM ESCANDALO !

Em outras medições realizadas com o Eng. Eugénio Lopes, ilustro como na rua podem facilmente estar expostos a níveis de radiação superiores a 1 mW/m2. Temos dois exemplos abaixo, um no centro de Carcavelos, outro no Estoril. Nas fotos da esquerda a medição foi feita imediatamente abaixo das antenas, nas fotos da direita a uma centena de metros das antenas. Ilustra-se também as antenas camufladas em ‘pinheiro’ artificial.
Se ao nível da rua as medições já são altas, então a diferença dum rés-do-chão para um último andar é bastante grande, pois o feixe da antena propaga principalmente na horizontal. Abaixo está a comparação entre dentro da minha casa atrás da janela (sem protecção de rede de aço) (R/C) e no alto do meu prédio (4º piso).
Não pensem que as antenas são a engenhoca mais potente a temer pela vossa saúde. Referi na minha «página de início» que estar dentro de um Centro Comercial é muito debilitante para um electrosensível. Deixo aqui as fotos que demonstram como dentro de um centro comercial podem estar expostos a radiação de microondas mais intensa do que aqueles que recebem a várias dezenas de metros das antenas de telemóvel. A foto da esquerda é de uma zona de restauração (a imagem pequena ilustra o aspecto da antena – seguir a seta); a foto da direita é da zona pública exterior aonde se encontram as máquinas de pagamento portáteis de um supermercado que dispõe dessa funcionalidade.

Este 2011 quase perdia um amigo – 33 anos, ataque de coração! Ele fuma, mas para ter isto nesta idade tinha de fumar o triplo, comentou-lhe o médico, que obviamente não relacionou o facto de ele trabalhar em um supermercado que tem destas máquinas de pagamento portáteis...

A CONTRIBUIÇÃO DE NEIL CHERRY

O Dr. Neil Cherry (1946-2003) foi um dos pioneiros no estudo dos efeitos dos campos electromagnéticos na saúde. No site podem ver a sua contribuição para esta temática: http://www.neilcherry.com/documents.php. Já em 2000 fez um excelente Relatório apresentado ao Senado Australiano sobre a radiação electromagnética.
Coloca ênfase na produção de melatonina que decresce drasticamente com a idade. A melatonina é um poderoso anti-oxidante que produzimos. É vital para a saúde do sistema imunitário, do cérebro, do coração e de todas as células.
Porquê o grande distúrbio causado pelas microondas pulsadas?
As frequências das ondas cerebrais dos mamíferos têm grande semelhança com a radiação natural que existe à superfície da Terra: as Ressonâncias de Schumann. Estas formam-se na cavidade existente entre a superfície terrestre e a ionosfera, tendo oscilações diárias relacionadas com a actividade eléctrica das trovoadas, e oscilações em ciclos maiores que seguem os ciclos das manchas solares, etc. Têm diversas frequências harmónicas, a mais conhecida é a de 7.8 Hertz (7.8 ciclos por segundo).
Medição das ressonancias de Schuman, podem ver a sobreposição com a energia da linha de comboio (16 Hz) e da corrente eléctrica (50 Hz), apesar da grande distância a que foi efectuada a medição.
Não são apenas os campos electromagnéticos artificiais que afectam as ondas cerebrais. Neil Cherry e outros, pensam que alterações na intensidade da Ressonância de Schumann são o sinal que explica a ligação da influência da actividade solar/geomagnética na saúde humana (Cherry, N., Natural Hazards 26: 279–331, 2002). Hoje em dia é difícil perceber os efeitos cíclicos das alterações naturais do geomagnetismo terrestre. Por exemplo, a taxa de suicídios nalguns países asiáticos como a Tailândia aumenta com o aumento do número de manchas solares. Mas noutros países como o Japão, já não se percebe essa tendência. Isto deve-se à crescente intensidade dos campos electromagnéticos artificiais, e ao aumento da luminosidade nocturna.
Os feixes de microndas pulsadas, têm alguns ciclos de pulsação que se sobrepõem com as frequências que abrangem as ondas cerebrais/Ressonâncias de Schumann. Isto é usado para permitir vários utilizadores conectarem-se com uma mesma antena de telemóvel. A comunicação GSM é efectuada usando divisões de tempo e sub-divisões de tempo, gerando pulsos de energia espaçados em intervalos de 217 e 8.4 ciclos por segundo. Os telemóveis que poupam energia quando o utilizador está apenas a ouvir e não a falar, geram um pulso adicional a cada 2 Hertz (Hyland, G., The Lancet, 356: 1833-1836, 2000). Os 2 e os 8 Hertz correspondem, respectivamente, às oscilações eléctricas das ondas delta e alfa do cérebro. Como sabem está proibido usar telemóveis em hospitais e aviões, porque podem interferir com os equipamentos. E não querem reconhecer que podem interferir com as ondas cerebrais! Não é inconsistente?
Já passaram pela experiência de perder a memória de curto prazo devido ao uso de telemóvel (ou sobre-exposição a radiação das antenas)? Eu já reparei nisso quando tive agora a sobreexposição entre os efeitos da antena no meu bairro (durante o sono), seguidos pelos efeitos da antena no trabalho. Felizmente que isso passou, mas torna o trabalho intelectual muito mais complicado.
A epilepsia fotosensível surgiu com o advento do televisor, ocorre em cerca de uma pessoa em 40,000, com uma incidência anual de 1 em 100,000 por ano (Harding e Harding, Applied Ergonomics 41 (2010) 504–508). É um bom exemplo que não se deve à intensidade da energia emitida por um televisor (à semelhança dos ‘efeitos térmicos’ das microondas), mas à informação que essa energia gera no nosso cérebro. Pode ser desencadeada com imagens a piscarem a cerca de 16-20 flashes por segundo.

A RESOLUÇÃO 1815 (2011) DO CONSELHO DA EUROPA


Este Maio foi repleto de acontecimentos positivos para a saúde dos cidadãos europeus. Ao fim de dois meses a antena foi retirada do IPIMAR, por a sua colocação nunca ter chegado a ser autorizada pela entidade responsável pelo terreno. Uma decisão sábia, que intencionada ou não, está de acordo com o principio da precaução. As ilustrações atrás ficam de recordação dolorosa, e mostram-vos situações que comportam riscos para a saúde, especialmente dos electrosensíveis. Em Portugal, no processo de colocação de antenas de telemóvel os moradores (ou neste caso os trabalhadores) não são consultados.
Esperemos que tudo isto comece a mudar com a Resolução 1815 (2011) aprovada este Maio pela Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa. O texto fala por si:
«Os perigos potenciais de campos electromagnéticos e os seus efeitos sobre o meio ambiente

Texto adoptado pela Comissão Permanente, em nome da Assembleia, em 27 Maio de 2011 (ver Documento 12608, relatório da Comissão do Meio Ambiente, Agricultura e Assuntos Locais e Regionais, relator: Sr. Huss).

1. A Assembleia Parlamentar tem sublinhado repetidamente a importância do empenho dos Estados na preservação do meio ambiente e da saúde ambiental, conforme estabelecido em muitas cartas, convenções, declarações e protocolos desde a Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano e a Declaração de Estocolmo (Estocolmo, 1972). A Assembleia reporta-se aos seus trabalhos anteriores nesta área, nomeadamente a Recomendação 1863 (2009) sobre ambiente e saúde, a Recomendação 1947 (2010) sobre a poluição sonora e luz, e, de maneira geral, a Recomendação 1885 (2009) na elaboração de um protocolo adicional à Convenção Europeia sobre os Direitos Humanos no respeitante ao direito a um meio ambiente saudável e a Recomendação 1430 (1999) sobre acesso à informação, participação pública na tomada de decisões ambientais e o acesso à justiça - a aplicação da Convenção de Aarhus.

2. Os efeitos potenciais sobre a saúde dos campos electromagnéticos de baixa frequência em torno de linhas de alta tensão e dispositivos eléctricos são objecto de investigação em curso e uma quantidade significativa de debate público. Segundo a Organização Mundial de Saúde, os campos electromagnéticos de todas as frequências representam uma das influências ambientais mais comuns e mais crescentes, sobre os quais a ansiedade e a especulação estão a aumentar. Todas as populações estão agora expostas a diferentes graus de campos electromagnéticos, os níveis dos quais continuarão a aumentar à medida que a tecnologia avança.

3. As telecomunicações móveis têm-se tornado comuns em todo o mundo. Esta tecnologia sem fios baseia-se em uma extensa rede de antenas fixas, ou estações base, transmitindo informação por meio de sinais de radiofrequência. Mais de 1,4 milhões de estações base existem no mundo e o número está a aumentar significativamente com a introdução da tecnologia de terceira geração. Outras redes sem fio que permitem o acesso à Internet de alta velocidade e serviços, tais como redes locais sem fio, são também cada vez mais comuns em residências, escritórios e muitos locais públicos (aeroportos, escolas, residências e áreas urbanas). Como o número de estações de base e redes sem fios locais aumenta, do mesmo modo aumenta a exposição a radiofrequência da população.

4. Enquanto campos eléctricos e electromagnéticos em determinadas faixas de frequência têm efeitos totalmente benéficos, que são aplicados na medicina, outras frequências não-ionizantes, sejam elas provenientes de frequências extremamente baixas, linhas de alta-tensão ou de certas ondas de alta frequência usadas nos radares, telecomunicações e telemóveis, parecem ter efeitos biológicos mais ou menos nocivos, não-térmicos, em plantas, insectos e animais, assim como no corpo humano, mesmo quando expostos a níveis que estão abaixo dos valores-limite oficiais.

5. No tocante aos padrões ou valores-limite de emissão de campos electromagnéticos de todos os tipos de frequências, a Assembleia recomenda que o princípio ALARA ou "tão baixo quanto razoavelmente possível" seja aplicado, abrangendo tanto os chamados efeitos térmicos e efeitos atérmicos ou biológicos das emissões ou radiações electromagnéticas. Além disso, o princípio da precaução deve ser aplicado quando a avaliação científica não permite que o risco seja determinado com certeza suficiente, especialmente tendo em conta o contexto da crescente exposição da população, incluindo os grupos particularmente vulneráveis, como jovens e crianças, o que poderia levar a custos humanos e económicos extremamente elevados por inacção se os alertas precoces forem negligenciados.

6. A Assembleia lamenta que, apesar dos apelos ao respeito do princípio da precaução e, apesar de todas as recomendações, declarações e uma série de avanços legais e legislativos, há ainda uma falta de reacção aos riscos ambientais e de saúde conhecidos ou emergentes e atrasos quase sistemáticos em adopção e aplicação de medidas preventivas eficazes. Esperar por elevados níveis de provas científicas e clínicas antes de tomar medidas para prevenir os riscos conhecidos pode levar a custos de saúde e económicos extremamente elevados, como foi o caso do amianto, a gasolina com chumbo e o tabaco.

7. Além disso, a Assembleia observa que o problema dos campos electromagnéticos ou ondas e as potenciais consequências para o meio ambiente e a saúde têm claros paralelos com outros temas actuais, como o licenciamento de medicamentos, produtos químicos, pesticidas, metais pesados ​​ou organismos geneticamente modificados. Assim, destaca que a questão da independência e credibilidade do conhecimento científico é fundamental para realizar uma avaliação transparente e equilibrada de potenciais impactos negativos sobre o meio ambiente e a saúde humana.

8. À luz das considerações acima expostas, a Assembleia recomenda que os Estados membros do Conselho da Europa:

8.1. em termos gerais:

8.1.1. tomem todas as medidas razoáveis ​​para reduzir a exposição aos campos electromagnéticos, especialmente para as radiofrequências de telemóveis, e em especial a exposição das crianças e jovens que parecem estar sob maior risco de tumores cerebrais;
8.1.2. reconsiderem a base científica para as actuais normas de exposição a campos electromagnéticos estabelecidas pela Comissão Internacional de Protecção Contra as Radiações Não-Ionizantes, que têm sérias limitações e aplicar os princípios de "tão baixo quanto razoavelmente possível" (ALARA), abrangendo tanto os efeitos térmicos e atérmicos ou biológicos das emissões ou radiações electromagnéticas;
8.1.3. disponibilizar informação e campanhas de sensibilização sobre os riscos potencialmente prejudiciais a longo prazo dos efeitos biológicos no ambiente e na saúde humana, especialmente dirigidas às crianças, adolescentes e jovens em idade reprodutiva;
8.1.4. prestar especial atenção às pessoas "electrosensíveis" que sofrem de uma síndrome de intolerância a campos electromagnéticos e introduzir medidas especiais para protegê-los, incluindo a criação de áreas livres de ondas não abrangidas pelas redes sem fio;
8.1.5. a fim de reduzir custos, economizar energia e, proteger o ambiente e a saúde humana, intensificar a investigação sobre novos tipos de antenas e telemóveis e dispositivos do tipo-DECT, e incentivar pesquisas para o desenvolvimento de telecomunicações baseados em outras tecnologias que sejam tão eficientes, mas tenham menos efeitos negativos sobre o meio ambiente e a saúde;

8.2. no respeitante à utilização privada de telemóveis, telefones sem fio (DECT), Wi-Fi, WLAN e WiMAX para computadores e outros dispositivos sem fio, como comunicadores de bebé:

8.2.1. definir limites preventivos para os níveis de exposição a longo prazo para microondas em todas as áreas internas, em conformidade com o princípio da precaução, não superior a 0,6 volts por metro, e no médio prazo, para reduzi-los a 0,2 volts por metro;
8.2.2. realizar procedimentos adequados de avaliação de risco para todos os novos tipos de dispositivos antes do licenciamento;
8.2.3. introduzir uma rotulagem clara, indicando a presença de microondas ou campos electromagnéticos, a potência de transmissão ou a taxa de absorção específica (SAR) do aparelho e quaisquer riscos de saúde associados à sua utilização;
8.2.4. aumentar a conscientização sobre os riscos potenciais à saúde dos telefones sem fio tipo DECT, comunicadores de bebé e outros electrodomésticos que emitem ondas de pulso contínuo, se todos os equipamentos eléctricos estiverem permanentemente em estado de espera, e recomendar o uso do telefone fixo com fio em casa ou, noutros casos, modelos que não emitem ondas pulsadas de forma permanente;

8.3. relativo à protecção das crianças:

8.3.1. desenvolver em diferentes ministérios (educação, meio ambiente e saúde) campanhas de informação específicas destinadas aos professores, pais e filhos para os alertar para os riscos específicos do uso precoce, irreflectido e prolongado de telemóveis e outros dispositivos que emitem microondas;
8.3.2. para crianças em geral, e particularmente nas escolas e nas salas de aula, dar preferência às ligações à Internet com fio, e regulamentar estritamente o uso de telemóveis por crianças em idade escolar nas instalações da escola;

8.4. sobre o planeamento das linhas de energia eléctrica e estações de base de antenas de retransmissão:

8.4.1. introduzir medidas de planeamento das cidades para manter as linhas de alta tensão e outras instalações eléctricas a uma distância segura dos edifícios;
8.4.2. aplicar normas de segurança rigorosas para a solidez dos sistemas eléctricos em edifícios novos;
8.4.3. reduzir os valores limite para as antenas de retransmissão, de acordo com o princípio ALARA e instalar sistemas de acompanhamento abrangente e contínuo de todas as antenas;
8.4.4. determinar os locais de qualquer nova antena GSM, UMTS, Wi-Fi ou WiMAX não apenas de acordo com os interesses das operadoras, mas em consulta com autoridades do governo local e regional, moradores locais e associações dos cidadãos em causa;

8.5. sobre a avaliação de risco e precauções:

8.5.1. fazer a avaliação de risco mais orientada para a prevenção;
8.5.2. melhorar os padrões de avaliação do risco e de qualidade, criando uma escala padrão de risco, tornando a indicação do nível de risco obrigatória, comissionando várias hipóteses de risco e considerando a compatibilidade com as condições da vida reais;
8.5.3. levar em conta e proteger os cientistas que dão o "alerta precoce";
8.5.4. formular uma definição orientada para os direitos humanos dos princípios da precaução e ALARA;
8.5.5. aumentar o financiamento público de investigação independente, nomeadamente através de subsídios da indústria e da tributação dos produtos que são objecto de estudos de investigação pública para avaliação dos riscos para a saúde;
8.5.6. criar comissões independentes para a atribuição de fundos públicos;
8.5.7. tornar obrigatória a transparência dos grupos de ‘lobby’;
8.5.8. promover o debate pluralista e contraditório entre todas as partes interessadas, incluindo a sociedade civil (Convenção de Aarhus).»


Espero que a Resolução 1815 abra os olhos a muita gente e, que as Autarquias Locais comecem a defender os seus concidadãos.
A 12 de Maio de 2011 (Dia Mundial da Fibriomialgia), representantes de várias associações europeias de pessoas com sensibilidade química múltipla e sensibilidade aos campos electromagnéticos, coordenados pela ASQUIFYDE foram recebidas pela OMS. Levaram um abaixo-assinado pedindo o reconhecimento dos sindromas ambientais, em conjunto com a fibriomialgia e o sindroma da fadiga crónica, globalmente designadas por Doenças de Sensibilização Central. Esta Associação promove um GUIA de vida saudável, com sugestões para reduzir os riscos a produtos químicos. É a acumulação de diversos produtos tóxicos no nosso corpo que favorece fortemente o surgimento destes síndromes ambientais de intolerância ao meio tóxico em que vivemos.

A 31 Maio 2011 a Agencia Internacional de Investigação sobre o Cancro/OMS (IARC) emitiu um comunicado, resultante de um Grupo de Trabalho, em que se classificam os campos electromagnéticos como potencialmente cancerígenos. A OMS já devia ter reconhecido isto há muito tempo. E tardam ainda em reconhecer todos outros malefícios que os CEM causam no ser humano (como dores de cabeça, alergias, arritmias no coração, perturbação de sono, etc…). A electrohipersensibilidade também ainda não é reconhecida pela OMS. A Resolução 1815 é mais incisiva que a OMS, instigando ao princípio da precaução.


O meio tóxico em que vivemos é a causa de diversos distúrbios de saúde. Tomem o exemplo dos pesticidas. O livro «Primavera Silenciosa», que Rachel Carson publicou em 1962, foi um grande impulsionador do movimento ambientalista. Alertou para a nocividade e inclusive mortalidade que o uso indiscriminado de pesticidas estava a causar na natureza. Mas passaram mais umas três décadas para que se tornasse do domínio publico, que o uso de muitos destes compostos sintéticos em doses ainda mais baixas causam outros efeitos, como diminuição de espermatozóides, esterilidade, deformações genitais, cancros devidos a causas hormonais, como o da mama e da próstata, etc. Foi editado em português em 1996 outro grande marco histórico de divulgação cientifica: «O Nosso Futuro Roubado». ... E passou mais uma década ainda para que a Europa finalmente proibisse a utilizacao de bisfenol em biberões! (Estes compostos são conhecidos como 'disruptores hormonais')
E com as radiações quanto tempo levará ainda para que se tomem medidas mais concretas?

Felizmente ainda se vê jornalismo corajoso. Não posso trazer aqui tudo em português, mas o excelente documentário ‘choque’ de 90 minutos da «France 3» mostra ao publico a variedade de problemas e controvérsias em torno das «Más Ondas». Focam que a desinformação faz parte da estratégia da industria das telecomunicações há muito tempo; problemas no desenvolvimento de ovos de aves e doenças em crianças perto de postes de telemóveis; entrevistas com os cientistas financiados pela industria que não encontram efeitos que se destaquem relacionados com estas tecnologias, e com os “outros” cientistas não ligados à industria e que encontram efeitos preocupantes; podem ver o ‘boneco’ usado para simular a radiação de microondas absorvida pelo corpo (somos apenas uma solução de açúcar e sais minerais na qual se mede o aquecimento; a ligação eléctrica entre os nossos neurónios é coisa que não tem qualquer importância e não precisa ser testada, afinal somos apenas um caldo de nutrientes!); e nas lojas os vendedores de telemóveis nem sabem explicar como interpretar a radiação emitida por estes aparelhos...
Pena não haver ainda em Portugal documentários com esta profundidade!